Um Brasil inventado…

Sexta-feira, dia 7 de novembro de 2008

Abrindo as apresentações do dia, tivemos Literatura em Cena no Centro de Convenções. Uma conversa muito elucidativa sobre os 200 anos da chegada da Corte portuguesa no Brasil foi estabelecida entre os convidados do evento e todo o público. Compunham a mesa: Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, Laurentino Gomes e Fuad Yazbeck, escritores e Francisco Seixas da Costa, embaixador de Portugal no Brasil. A mediação foi feita por Guiomar de Grammont, escritora, dramaturga e diretora do Instituto de Filosofia Artes e Cultura da UFOP.

Agora convido você, leitor, a embarcar em um universo composto por ficção e história que permeou todo o debate.

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    Guiomar de Grammont, Fuad Yazbeck, Francisco Seixas

    da Costa, Laurentino Gomes e Angelo Oswaldo

“1808- A invenção do Brasil”

           Se quando lhe perguntam a idade do Brasil você responde “500 anos” sem pestanejar, saiba que essa resposta pode ser contestada. Segundo o jornalista Laurentino Gomes, escritor do livro 1808, o Brasil nasceu apenas há 200 anos quando Dom João VI fugiu das tropas napoleônicas, deixando Lisboa para fazer do Rio de Janeiro a sede do Império. Gomes, que iniciou a palestra, contou também sobre o fato de Dom João ter “clonado” Portugal aqui no Brasil, deixando uma herança portuguesa muito perceptível em todo esse processo de invenção do nosso país.

        A seguir foi a vez de Fuad Yazbeck discorrer sobre o assunto. Ele disse que o Brasil, após ter sido encontrado por Portugal, foi ignorado até 1771. “Essa terra existe, é nossa, depois veremos o que fazer com ela.”- assim se estabelecia o pensamento português.

      Já Francisco Seixas da Costa, embaixador de Portugal no Brasil, abordou como a questão da vinda da Corte para cá sempre foi muito controversa. Ele disse que Portugal busca esquecer esse período, pois acredita que este seja vergonhoso. Sobre a abertura dos portos, para o embaixador, Dom João “assinou a sentença de morte do imperialismo português”.

      Tivemos a oportunidade também de ouvir muitos comentários de Angelo Oswaldo, jornalista e prefeito de Ouro Preto.

      Em seguida, a palestra foi aberta a para a participação do público, tanto para perguntas, quanto para comentários. Primeiramente, Guiomar de Grammont perguntou para Fuad Yazbeck e Laurentino Gomes como é se valer da história para fazer um romance.

      Yazbeck respondeu: “Minha idéia não foi mais do que uma revivência infantil de escrever um livro de aventuras. Havia também a idéia de trabalhar com um fato tão marcante como a história do Brasil. Quando se pretende a construção de uma personagem ficcional em um ambiente histórico real, existe uma grande dificuldade: representar uma personagem no contexto histórico da época, principalmente pela perspectiva do comportamento.”

     Laurentino, entretanto, disse que seu livro não é de ficção. Trata-se de um livro histórico, porém com uma linguagem literária, até para que ele seja compreensível para as pessoas mais leigas.

      Ouvimos o emocionante depoimento de Efigênia, uma moradora de Ouro Preto que diz ser de grande importância iniciativas como o Fórum das Letras, onde são oferecidos eventos culturais gratuitos.

        (veja a entrevista completa em Entrevistas)

 

      Encerro, enfim, com a magia de Machado de Assis, descrevendo, de maneira singular, a relação entre o ficcional e o histórico tão presente nessa significativa conversa.

   “Um contador de histórias é justamente o contrário de historiador, não sendo um historiador, afinal de contas, mais do que um contador de histórias. Porque essa diferença? Simples, leitor, nada mais simples.O historiador foi inventado por ti, homem culto, letrado, humanista; o contador de histórias foi inventado pelo povo, que nunca leu Tito Lívio, e entende que contar o que se passou é só fantasiar.”

– trecho lido pela professora Marli Fantini.

 Texto por Júlia Abrão

 

 Foto por Júlia Abrão

Published in: on 7 novembro, 2008 at 5:29 pm  Comments (2)  

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2 ComentáriosDeixe um comentário

  1. Fico muito feliz por ver um grande talento como o da julia sendo cada vez mais lapidado e aperfeiçoado !! E olha que é só começo de sua carreira no jornalismo.
    Estou muito orgulho !! Muita sorte e que Deus te ilumine nesse novo caminho. Beijos.

  2. Parabens pela matéria Julia. Você escreve com autoria, e sem duvidas será uma profissional de sucesso !!
    Beijos, se cuide !!


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